Essa guerrinha não levará ninguém a lugar algum. Nunca levou e não vai levar. Na realidade levará sim... para o mesmo alugar onde a arrogância sobre o outro empurra: para trás.
Estava acompanhando um webinar sobre gestão de projetos, técnicas de facilitação etc, quando um participante escreveu no chat do grupo um problema que passava em sua empresa com relação a novas ferramentas e formas de trabalho. Muitos concordaram e, para o meu espanto, o bom senso foi muito maior que eu esperava na pequena discussão (que logo acabou para retornar à apresentação). Vejo, felizmente como muitos outros (sim, felizmente), que nas empresas (principalmente nas maiores) os mais experientes tem certa resistência em aceitar novas formas de trabalho. E em contrapartida, há muitos recém chegados da faculdade, que fizeram alguns cursos ágeis ou participaram de um projeto em uma startup, achando ter a solução para todas as respostas sem nem saber quais são as perguntas.
OK...vou explicar melhor. Entre a teoria e a prática há hiato. Junto com a cultura, esse hiato desencorajou os mais antigos que aprenderam - e sempre viveram com isso em mente - que este é um vale proibido (você assistiu Planeta dos Macacos? Tipo aquilo). Os recém chegados, por outro lado, estão repletos de novas técnicas (+), cheios de si (+), mas têm certeza que são os salvadores do mundo (-) e que todo o resto é uma cambada de ignorante (-). Muitas vezes estes não entendem realmente os conceitos e nem o status quo da empresa que estão entrando, partindo da suposição que só existe uma forma das coisas funcionarem: a novíssima metodologia que alguém inventou em um lugar distante e que ele viu num blog por aí. É claro que testar técnicas é válido, mas antes de aceitar o risco, identifique-o.
Alguns de cabeça antiga esperam ser solicitados, são passivos e não discutem com seu superior, pois seria falta de respeito (muitas vezes este superior acha isso mesmo quando alguém o questiona). Os de cabeça nova querem revolucionar a empresa de forma drástica, ignorando o ambiente como um todo e pensando somente no seu quadrado e naquele período de tempo: uma errada interpretação de coragem, iteração e acolhimento de mudanças. Decorar não é entender e muitos decoraram o manifesto; têm a resposta na ponta-da-língua para tudo... desde que se enquadre no seu cenário perfeito, claro.
Você não concorda que há algo de errado quando o "Sr. João" vê um fracasso, muitas vezes óbvio, de quem voluptuosamente inicia uma empreitada sem conhecer o terreno (desconsiderando as características do local onde está e achando que tudo ocorrerá igualzinho de como naquela empresa caso-de-sucesso da palestra do Agile Brazil), como justificativa para não mudar nada?
Você não concorda que algo não está certo quando o "Marquinhos", teoricamente mais esclarecido (pois aprendeu numa escola a frente de seus colegas de trabalho mais antigos), cometer os mesmos erros básicos de algumas pessoas de gerações atrás que ignoraram a adaptação, interpretaram as coisas como lhe convinham e achavam que estava tudo errado até a ideia deles surgir para simplificar exageradamente a complexidade? Enaltecer os defeitos do outro quando se está prestes a repeti-los não é nada bom... assim como é péssimo achar que a diferença dele para o super-homem é que o super-homem enfraquece com a criptonita.
Num ambiente complexo, temos que estabilizar ou minimizar um grande número de variáveis para que seja possível lidar melhor com tudo que está fora do nosso controle. É isso que o ágil propõe. Se o problema dos projetos é comunicação e é possível utilizar formas de mantê-la eficiente, vamos utilizar estas técnicas e nos organizar de forma a mitigarmos este tipo de preocupação e, assim, podermos focar mais na mudança de requisitos, por exemplo. A maioria das técnicas e ferramentas, assim como os conceitos básicos por trás do manifesto, não foram criados agora; é tudo coisa velha aglutinada de forma excelente! É o uso correto de todo esse conhecimento unido ao entendimento dos conceitos por trás de cada princípio a ser adotado que faz e fará a diferença. É a integração das novas misturas e novos sabores com o que já existia que impulsionará o mundo. É a adaptação com a boa estratégia de mudanças na organização que levará sua empresa ao sucesso. Se você está em uma startup, excelente! Muitos problemas carregados de "outras vidas" não existirão! Mas se você está em uma multinacional (ou governo) com estrutura e pensamentos antigos e problemas culturais gigantescos, o caminho para a excelência será traçado de uma forma um pouco diferente dos desenhos Disney, como é pregados em muitos testemunhos ágeis.
Quanto ao "Sr. João" e ao "Marquinhos", deve haver bom senso e desejo de vitória coletiva, cientes de que todos erramos, sempre aprendemos e precisamos conhecer antes de criticar.
É um cabo de guerra que não leva ninguém a lugar nenhum. Ao invés de se complementarem e crescerem juntos, "Srs Joões" e "Marquinhos" ficam todos numa disputa querendo apontar o erro do outro.
Entender os conceito ágeis é uma excelente forma de começar. Eu disse entender, não decorar. Entender as razões de um grupo de experientes pessoas terem chegado a tais "mandamentos" é essencial, assim como entender a cultura da sua empresa e o perfil de seus colegas de trabalho.
Recomendo artigos do Klaus Wuestefeld e do Manoel Pimentel, na internet ou no MundoJÁgil; sempre falam deste ponto que para mim é o mais delicado e decisivo: comportamento.
E também este link para entender um pouco como as pessoas da geração Y são como são: Porque os jovens profissionais da geração y estão infelizes.
... Má interpretação do gráfico da baleia... "pessoas precisam ser mandadas e pressionadas"... "o importante é entregar (qualidade ninguém vê)"... "nós fizemos o que o cliente pediu".
Software não é um prédio. O produto é abstrato. O projeto de desenvolvimento é algo criativo; gera um resultado único. O desenvolvimento não uma linha de produção.
Algumas certezas foram trazidas e algumas comparações foram feitas no passado e nos fizeram chegar em alguns problemas de entendimento. Por favor, entusiasta de métodos ágeis, não cometa os mesmos equívocos!
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